A Escola Prada nasceu do sonho do empreendedor industriário Italiano, radicado em Limeira, proprietário da Indústria Prada – Comendador Agostinho Prada.
Fazia parte de seu projeto para a Indústria e a cidade a construção da Vila Operária. Um complexo que além da maior indústria de chapéus da América Latina, abrigava moradias, cooperativa de alimentos, ambulatório médico, escola e creche para filhos de funcionários.
A Escola Prada foi tombada como bem patrimônio histórico e arquitetônico de Limeira fazendo parte do Conjunto PRADA de acordo com a Resolução nº 02/2019, Jornal Município de Limeira de 13 de abril de 2019, página 11 e 12, edição 5471, Digital 363. O Conjunto é composto pelas antigas instalações da Indústria de Chapéus Prada (hoje Paço Municipal), Escola Prada (EMEIEF Prada), Creche Flor de Castro Rodrigues e Jardim de Infância Iris Dalla Chiesa (hoje, ambos prédios parte do CEIEF Flora de Castro Rodrigues).
Sendo patrimônios históricos e arquitetônicos, devido a importância histórica e cultural para a cidade de Limeira, os aparelhos educacionais seguem como testemunhas do contexto do desenvolvimento da industrialização de Limeira (e do Brasil) da primeira metade do século XX e da luta pela “humanização do trabalho” e dignidade do trabalhador, numa sociedade que ainda sentia os resquícios do trabalho escravocrata.
Agostinho Prada, com sua visão arrojada para a época foi um dos precursores do que se chama a “humanização da indústria” e as escolas que fazem parte do Conjunto Prada seguem ininterruptamente oferecendo educação desde suas fundações no final da década de 1940; inicialmente foram mantidas exclusivamente com recursos privados, posteriormente, os prédios foram doados ao município e, mais tarde, o processo educacional foi assumido pelo Estado. No início dos anos 2000, com o movimento de Municipalização do Ensino passou a ser administrada e a integrar a Rede Municipal de Educação de Limeira.
A construção da Escola e da Creche da Indústria Prada, foi concebida e construída numa época marcada pela explosão do trabalho industrial, os desafios e consequências da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, da entrada da mulher no mundo do trabalho operário no Brasil, as grandes greves de trabalhadores, o nascimento de movimentos sociais e sindicais, o êxodo rural, as migrações e as imigrações, o nascimento das legislações trabalhistas brasileiras, a reurbanização das cidades entre outras características daquele período histórico.
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O Complexo Prada abrangia a fábrica (A), a creche (B), a escola (C), casas para trabalhadores (D), uma cooperativa de consumo, além de um conjunto esportivo (Esporte Clube Prada) que hoje é o campo do Indepedente. O croqui abaixo, gentilmente cedido por Felipe Penedo, apresenta a intenção de construir a vila dos trabalhadores, o que, entretanto, não ocorreu integralmente, tendo sido edificadas algumas unidades1.
Croqui propositivo do Complexo Prada de R. Marchesini – década de 1950 – Fonte: acervo Felipe Penedo.
Na Figura 14 abaixo, há um mosaico de imagens antigas, sem data definida, que apresenta em (1) as casas da vila de operários edificadas, que se situava onde foi construida mais recentemente agência da Caixa Econômica Federal; em (2), o edifício da cooperativa de consumo (hoje Agência do Santander) e em (3), a Escola Prada.”
Mosaico de imagens do Complexo Prada – Fonte: acervo Felipe Penedo.
Conforme relatado pelos historiadores Ana Cláudia Silva e João Paulo Berto (s/data – Anexo I), a construção da fábrica data dos anos 1937 a 1939, a escola, de 1947 e a creche, de 1949. Conforme artigo de maio de 1972 do Jornal ‘A Unidade’ (pág. 3), a Cia. Prada, promoveu mais que empregos para seus funcionários, pois além do que compunha o complexo Prada, a fábrica também contava com um Corpo de Bombeiros próprio, que atendia inclusive à cidade, além de oferecer assistência médica, odontológica e hospitalar, num conjunto mantido pelo Fundação Prada de Assistência Social.(…)
Conforme Belotti (2013, p. 10), os vastos jardins da fábrica, assim como a fonte luminosa, o antigo portão com luminárias, as muretas – sendo os jardins e muretas também existentes na Creche e na Escola – “remetem à concepção das ‘vilas italianas’” e dão identidade visual ao conjunto.(…)
Assim, ao criar um pedaço de cidade que proporcionava o desempenho das várias ações do homem, promovendo sua dignidade, o conjunto, além de ser significativo sob o ponto de vista histórico, no desenvolvimento urbano e socioeconômico da cidade no período de industrialização brasileiro, esse sistema de suporte ao trabalhador – ocorrido um século depois do que já havia acontecido na Europa no século anterior com New Lanark ou Saltaire2 , em Bradford, Inglaterra, – conforme as ideias de Robert Owen e outros reformadores e socialistas utópicos, caracterizando propostas de grande importância para a história do urbanismo- pois traz para o Brasil inspirações que procuravam proporcionar a dignidade do ser humano e a harmonia na cidade.
As referências apresentadas a seguir ilustram esse tipo de iniciativa urbana apontada acima como a que foi promovida pela Fábrica de chapéus Prada. A primeira é uma vila próxima a Lanark, na Escócia, fundada em 1786 por David Dale, e concebida por Robert Owen, é um exemplo excepcional de uma vilarejo industrial junto da Fiação de algodão onde, nos primeiros anos do século XIX, o idealista utópico Robert Owen (1771-1858) inspirou uma Comunidade industrial modelo baseada na produção têxtil. Foi lá que Owen primeiro aplicou sua forma de paternalismo benevolente na indústria, construindo a partir das ações altruístas de seu sogro, David Dale. Foi também lá que formulou sua visão utópica de uma sociedade sem crime, pobreza e miséria. New Lanark prosperou sob sua gerência esclarecida (Figura 20, imagens 1 e 2), assim como se verificou com a Fábrica Prada.(…)
Pelo exposto, verificar-se que o pensamento humanista norteou a obra de Owen e de Titus Salt e influenciou algumas iniciativas posteriores como a Vila Maria Zélia [em São Paulo, acréscimo nosso], gravando nas cidades e na história, seja mundial, nos casos de New Lanark e Saltaire, seja brasileiro, como a mencionada vila, essa ideologia. É, portanto, nesse pensamento humanista, proposto dentre outros por Owen, que se destaca o conjunto Prada – hoje infelizmente com apenas 3 edificações remanescentes – como um exemplar brasileiro. (SCIOTA, Alessandra Argenton. LAUDO TÉCNICO PARA TOMBAMENTO DE IMÓVEL – Conjunto Prada. 2017. Disponível em <http://atom.limeira.sp.gov.br/uploads/r/arquivo-geral-da-prefeitura-municipal-de-limeira/4/5/a/45ada30e4ae527212e0f7b0d7c0b8cdfc22847d62eaaaf119a5bcc6ffdc72957/CONJUNTO_PRADA_-_LAUDO_T__CNICO_-_REV_02_CompressPdf.pdf. Acessado em 07/07/2025>)
Pelos estudos realizados por SCIOTA, para o Laudo Técnico de Tombamento de Imóvel – Conjunto Prada, podemos considerar a importância da preservação da EMEIEF Prada como obra testemunha não só da construção do Complexo Prada, mas do progresso da industrialização e da cidade de Limeira e uma nova concepção de sociedade e do trabalho com ideias nascentes na Europa, que se introduziram no Brasil, com os fluxos das imigrações europeias e a transição econômica que o país sofria passando, especialmente em São Paulo, do modelo de trabalho majoritário de produção agropecuário, extrativista e minerador rural para um modelo conjugado com o urbano industrial. Do ponto de vista arquitetônico, SCIOTA salienta:
o prédio escolar não apresenta relevância especial sob a ótica da arquitetura, já que não exemplifica nenhum período da historiografia da arquitetura escolar, sejam as primeiras construções do período do Brasil República que possuíam projetos-tipo eram construídas em cidades diversas do território paulista conforme apontam Buffa e Pinto (2002) e Oliveira (2015), com variações nas fachadas, sejam as escolas inspiradas em Anísio Teixeira que seguiam o ideário Modernista. (…) a grande importância para a memória limeirense está no Conjunto Prada remanescente – fábrica, escola e creche – pois gravou na cidade um modo de vida muito significativo que foi o do começo do desenvolvimento industrial e do crescimento urbano e a promoção da dignidade do trabalhador e sua família. ibid. (pp. 38 e39)